Países asiáticos e do
Oriente Médio é há tempos os maiores clientes das grandes grifes européias.
Agora, querem se tornar donos.
Há pouco mais de uma semana, a Maison Valentino – uma das mais tradicionais
grife de luxo do mercado – anunciou que trocava de dono. O fundo de private equity inglês Permira
negociou a venda da marca para a empresa de investimentos Mayhoola, que
pertence à família real do Catar. Também entrou na negociação a marca italiana
Missoni, que fabrica roupas e assessórios feitos em tricô de seda, além de
objetos de decoração. O valor da compra não foi revelado, mas fontes do
jornal The Wall Street Journal afirmaram
que a cifras chegaram a 600 milhões de euros. Era mais uma das dezenas de
negociações de peso entre marcas de luxo européias e empresa de países
emergentes nos últimos anos. Em janeiro, a marca francesa Sonia Rykel foi
vendida ao fundo chinesa Fung Brands. Em junho de 2011, o grupo Prada estreou
na bolsa de valores de Hong Kong com o objetivo de captar recursos com
acionistas chineses. O indiano Mittal também tem sua parcela no mercado, por
meio da alemã Escada.
A movimentação entre grupos tão distantes
geograficamente é justificada por duas razões principais: a incontestável
importância da Ásia para o mercado de luxo global e a perda de fôlego
financeiro dos grupos europeus, que enxergavam em produtos de alto valor
agregado uma fonte interminável de boas margens de lucro. Em um primeiro
momento, grandes empresas do setor, como LVMH, Prada, Burberry e PPR
direcionaram seus planos de expansão para a China – país que abriga seus
principais clientes não só na conta global, mas também nas lojas européias.
Basta lembrar que as filas de chineses nas portas de lojas como a Louis Vuitton
em Paris tornaram-se praticamente um cartão postal alternativo da cidade.
Novo momento – Agora, com a Europa em crise e até mesmo a China em desaceleração, não só algumas roupas de alta costura
tornaram-se mais atrativas a investidores endinheirados, como também as
empresas que as fabricam. “É um movimento que se justifica, já que o mercado de
luxo trabalha com altas margens e dificilmente é atingido por crises. É um
setor altamente atrativo para investidores capitalizados, como os asiáticos”,
afirma Stacey Widlitz, da consultoria SW Retail Advisors.
Segundo Stacey, o interesse asiático ganha, musculatura depois que as
marcas consolidaram-se na região, sobretudo na China, seguindo planos de
expansão agressivos. “As empresas vão onde o mercado cresce. E o crescimento de
dois dígitos tem sido uma constante para o mercado de luxo na Ásia, mesmo
quando há desaceleração econômica”, afirma.
De acordo com dados da consultoria Bain
& Company, entre 2008 e 2011, mais de 350 lojas de marcas de luxo européias
foram abertas somente na China – sendo Armani e Hugo Boss as maiores em
unidades. Contudo, em um cenário menos favorável ao consumo, a Bain prevê que
as marcas vão reduzir os investimentos em aberturas de novas lojas e direcionar
seus esforços para aumentar a base de clientes nos países onde já estão
presentes. “Algumas marcas estão sendo mais cuidadosas com a expansão física e
pensarão mais no desempenho das lojas já existentes”, informa o relatório da
consultoria.
Brasil – Ainda que a desaceleração também tenha afetado
o Brasil – de forma
até mais contundente que a China –, o país continua sendo um oásis para o
consumo de alta renda. Em 2011, o setor movimentou 18 bilhões de reais no
mercado nacional, segundo a consultoria MCF. Exemplo disso é a polêmica
abertura do shopping Iguatemi JK, do Grupo Jereissatti, que conta com mais de
20 marcas internacionais de alto luxo – muitas das quais jamais estiveram
presentes no país, como Goyard e Lanvin.
Contudo, o país ainda está longe de possuir
grupos financeiros com cacife para – assim como China, Índia e Catar – adquirir
marcas internacionais. A Daslu – depois de vislumbrar a falência após o
escândalo tributário que levou sua antiga dona à cadeia – foi adquirida na
"bacia das almas" pelo empresário Marcus Elias, da LAEP. Já a
Inbrands, dona da Ellus, titubeia para estrear na bolsa de valores e conseguir
captar para fazer novas aquisições locais. A Le Lis Blanc, que é controlada
pelo fundo de private equity Artesia e tem apresentado resultados
financeiros satisfatórios,
só agora começa a colocar em prática seu plano de expansão no Brasil, após ter
captado recursos na BM&FBovespa. No início do mês, o grupo fechou a compra
da Rosa Chá.
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